Assim como os cobiçados seres mitológicos de um único chifre, as empresas ou startups unicórnios são aqueles raros negócios que todos desejam e que se destacam no cenário. Em outras palavras, são empresas privadas que foram avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares.
Quando Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures - um fundo que apoia empreendedores que reinventam o trabalho e a vida pessoal por meio de softwares - decidiu, em 2013, estudar mais sobre as startups em crescimento, se deparou com duas principais perguntas:
Para tentar responder a esses dois questionamentos, Aileen foi estudar o “Clube do Unicórnio”, ou seja, 39 empresas que preenchiam os requisitos para ingresso.
(Vale destacar, que quando Aileen cunhou o termo, em 2013, empresas unicórnio estavam restritas ao setor de software com sede nos EUA.)
Para ficar clara a raridade desses unicórnios: estas 39 empresas representavam 0,07% de todas as startups de software empresarial e de consumo.
A impressão que pode ficar, por conta da mídia, é de que empresas unicórnios estão nascendo a cada minuto. Mas é realmente difícil e altamente improvável construir ou investir em uma empresa de bilhões de dólares. 0,07% significa 1 unicórnio para 1,538 startups. Entrar para o seleto clube dos unicórnios é 100 vezes mais difícil do que entrar em Stanford.
Para estudar melhor o Clube do Unicórnio, Aileen dividiu as empresas em quatro modelos de negócios:
O inexperiente fundador de vinte e poucos anos é mais um ponto fora da curva do que uma norma. O perfil dos fundadores das unicórnios são CEOs de 30/40 anos com um DNA empreendedor. 80% já havia fundado outra empresa antes – algumas empresasforam um sucesso e outras fracassaram.
Vale ressaltar que, da lista das 39 empresas unicórnio, somente dois fundadores tinham experiência anterior em tecnologia. Isso nos faz pensar na importância desse DNA empreendedor e da gestão voltada para a inovação versus a tecnologia em si.
Apenas duas empresas da lista têm co-fundadoras do sexo feminino, e nenhum unicórnio tem CEOs do sexo feminino.
90% dos CEOs de unicórnios possuem diploma das dez melhores escolas do mundo, como Stanford, Harvard, Berkeley e MIT.
A conclusão inevitável é de que, infelizmente, ainda existe pouquíssima diversidade entre esses CEOs.
Como já ressaltado, em 2013, quando o termo “unicórnio” foi criado, ele só compreendia empresas norte-americanas e no ramo de software. Hoje em dia, considera-se uma startup unicórnio qualquer empresa privada avaliada em mais de um 1 bilhão de dólares.
Atualmente, as empresas unicórnios estão divididas em mais duas categorias. Ao alcançarem um valor de mercado maior que 10 bilhões de dólares, são chamadas de decacórnio, e quando alcançam 100 bilhões, são chamadas de hectacórnio.
Para Aileen, cada onda nova de tecnologia deu origem a um ou mais hectacórnios, ou superunicórnios. Na década de 2000, surgiu o Facebook; década de 1990, o Google e Amazon; 1980, a Cisco; 1970, Apple, Oracle e Microsoft; e década de 1960, a Intel.
Em 2021, a CB Insights divulgou uma lista atualizada das unicórnios: 531 empresas com uma avaliação cumulativa total de mais de 1,7 trilhão de dólares. A mais valiosa é a chinesa Byte Dance, avaliada em 140 bilhões. A empresa é a dona do TikTok e de outros aplicativos que utilizam inteligência artificial, como a Helo, que já está disponível no Brasil.
Todas as empresas que compõem a lista das dez unicórnios mais valiosas já passaram da casa dos 10 bilhões e já são consideradas decacórnios. Para se ter uma ideia do tamanho do crescimento, a empresa que fechou esse top 10 é a Instacart, uma startup de entregas, e está avaliada em 17,7 bilhões.
De acordo com o Distrito, ecossistema independente de startups no Brasil, apenas doze brasileiras figuram nesta lista, majoritariamente dominada por empresas chinesas e norte-americanas. E não existe nenhuma empresa brasileira superunicórnio.
As atuais unicórnio brasileiras são: Hotmart, Olist, Merama, DAKI, CloudWalk, Frete.com, Nuvemshop, Unico, Mercado BitCoin, Madeira Madeira, Creditas, Movile, EBANX; a empresa de jogos Wildlife Studios; as empresas de suprimento, logística e entrega Ifood e Loggi; as empresas de e-commerce voltadas diretamente para o consumidor Quinto Andar e LOFT; 99 app, empresa de transporte individual; a plataforma corporativa de atividade física, Gympass, e C6 Bank.
Também temos a VTEX, empresa que oferece soluções para e-commerce. Os recursos da VTEX vieram dos investidores de tecnologia Lone Pine e Tiger Global. Nos últimos dez meses, arrecadou recursos de outros fundos que elevaram seu financiamento total para US$365 milhões no período. A princípio, a lista pode parecer grande, mas o Brasil ainda está muito atrás do mercado asiático e americano.
Para saber mais sobre a história da VTEX, veja abaixo uma entrevista com Geraldo Thomaz, co-CEO e co-fundador da empresa.
Para se manter fiel à definição mais comum de unicórnios, o Distritocriou o termo IPOgrifos, uma referência aos seres mitológicos que têm corpo de égua e cabeça e asas de águia. O termo ainda utiliza a sigla em inglês IPO, que marca a oferta pública inicial de ações de uma companhia ao mercado.
A resposta está alinhada com o perfil seleto dos próprios fundadores das unicórnios, ou seja, está vinculada ao próprio sistema educacional no país.
Quando me formei na Harvard Business School, me questionei sobre o porquê de tão poucos terem acesso a esse tipo de conteúdo de qualidade. Por que não levar os melhores professores do mundo para o Brasil e dar a oportunidade de outras pessoas viverem esta experiência de aprendizado?
Ao mesmo tempo que percebi a defasagem no ensino executivo, entre 2016 e 2019, conversei com 395 empreendedores e identifiquei outro gap, agora na atualização da gestão das empresas no Brasil.
Percebi que, neste mundo da Nova Economia, que está sempre em rápida transformação, os líderes que não se atualizarem dentro de um padrão mundial de gestão não conseguirão se manter relevantes e, por consequência, suas empresas irão sofrer.
Assim, surgiu o propósito da xTree: democratizar conteúdos práticos de gestão de padrão mundial para líderes brasileiros para transformar as suas empresas.
Existem muitas oportunidades para se trazer diversidade ao clube dos unicórnios. E existe muita oportunidade no Brasil. Segundo dados da Crunchbase Unicorn Board, o Brasil foi o 3º maior criador de unicórnios em 2019 – estando atrás apenas dos Estados Unidos e China. Além disso, nosso país é referência na América do Sul, junto com a Colômbia, no mercado de investimentos de risco em ascensão.
É necessário garantir esse crescimento constante e, também, maior diversidade das unicórnios brasileiras. Aguardamos ansiosos para conhecer e apoiar os próximos que entrarão para este seleto grupo.